domingo, 25 de julho de 2010

OS BOBOS DE POLIANA


Poliana precisa se distrair, arejar a cabeça. Decidiu tornar Mundo Real mais parecido com Horário Eleitoral, assim seus súditos ficarão mais felizes. Encomendou de seus bobos da corte, enormes gravuras de rostos alegres e sorridentes para embelezar todo o reino. Faixas, cartazes e propagandas mostrando a vida como em Horário Eleitoral. Tudo muito arrumado e colorido. Para admirar essas maravilhas é preciso olhar para cima e assim não se percebe os buracos no asfalto. Idéia brilhante! Poliana sempre fora muito esperta. Mas apesar de seus esforços, ainda há plebeus ingratos reclamando, pedindo, questionando. Gente de visão limitada que não entende que participação, confronto de idéias, diálogo franco só existe em Horário Eleitoral. Em Mundo Real tudo isso é enrolação.
Nos últimos tempos até mesmo alguns curandeiros de seu reino deram de se rebelar. Queixam-se dos baixos salários, do excesso de doenças e doentes, da necessidade de se investir em prevenção e em melhores condições de trabalho. Falam eles, os tolos, em valorização profissional. Poliana não entende de onde surgiram idéias tão estapafúrdias! Valorização deve-se dar aos amigos, não a quem mereça. Poliana valorizava muito seus bobos da corte. Estes sim eram de grande valia. Sempre faziam Poliana rir. Nunca a contrariavam. Estavam sempre prestativos e solícitos, prontos a lhe adular. E eram tantos, que quase não se podia contar. Era impressionante a capacidade reprodutiva de seus bobos. Quanta fecundidade! Já os curandeiros, além de não se reproduzirem com igual eficiência, eram, na maioria, pessoas taciturnas e sem atrativos. Só falavam em coisas desagradáveis como enfermidades, moléstias e sofrimentos. Não sabiam contar piadinhas e eram péssimos em bajulações. Que serventia teria essa gente para Poliana? Certamente nenhuma! Ocorre que talvez o povo pudesse sentir falta dos curandeiros, caso estes viessem a faltar. O povo adora doenças e lamúrias! É preciso alguém para entretê-los e ouvir suas mazelas, enquanto Poliana e sua trupe se divertem. A essa altura, Poliana já aprendera que curandeiros não brotam do chão, mas alguns de seus bobos lhe confidenciaram que às vezes eles caem do céu em breves pancadas de chuva. Poliana acredita, por isso espera tranqüila e paciente, enquanto uma densa e escura nuvem cobre seu reino.
Enquanto aguarda, Poliana precisa acalmar aos insatisfeitos e contentar seus amigos. Para isso, criou um novo e hilariante jogo. Trata-se de um complicado processo, integrado e integrador, de participação coletiva e cidadã na inclusão de novos glúteos em velhas poltronas. Tudo muito divertido! Seus aliados adoraram a brincadeira, batiam palmas e cantavam alegremente. Ninguém podia deixar a poltrona esquentar. Ao menor sinal de calor todos corriam saltitantes e fagueiros até a poltrona mais próxima. Se alguém importante ficava de fora, Poliana - astuta como só ela - prontamente resolvia: comprava novas poltronas ou mandava queimar alguém na fogueira das vaidades. Tudo para divertir seus asseclas. Alguns plebeus, com sempre, não acharam graça em tal jogo. Fazer o quê? Senso de humor não é para todos.

3 comentários:

  1. Gostei muito deste autor, bom escritor, confiante, cheio de idéias e apontamentos sensatos e com certeza soluções para está bagunça que se apresenta.

    "O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas."
    Bertrand Russell

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  2. Todo o bobo gosta de uma teta né.

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  3. Poliana gosta de servir!Criar,inovar:Acaba de criar nova função em seu reino:O ministro das caixas brancas.Em todos os locais onde circulam sues suditos instalou caixas para receber in formações sobre seus bobos.Cada caixa foi inaugurada por um cortejo,à frente o ministro pomposamente justificando seu alto salário(diz a bruxa má que é muito mais que seu salário anterior de vereador...será?)

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