domingo, 8 de agosto de 2010

Poliana e a fogueira das vaidades


Poliana sente o clima esquentar. A fogueira das vaidades arde como nunca. Em Horário Eleitoral era muito mais fácil contentar seus aliados e iludir seus súditos. Poliana por vezes acha que há mais gente se intrometendo em seu reinado do que seria aceitável. Está cada vez mais difícil que vários corpos - e mentes - continuem ocupando o mesmo lugar no trono. Deveria ter estudado um pouco mais de física. Em Horário Eleitoral, para superar suas dificuldades em ciências e ilusionismo, fizera um pacto irrevogável com o alquimista mor do reino. O douto da retórica e da eloqüência. Filósofo consagrado e mestre do ocultismo. Capaz de hipnotizar a todos com seu magnífico e insuperável poder da oratória. Profundo conhecedor de ciências exatas e da exatidão de suas conveniências. Capaz de manipular as massas e massificar os adversários. Este ser supremo, quase divino, agora levita soberano e imponente sobre o império de Poliana.
O pacto macabro com o Alquimista fora firmado em uma estranha e lúgubre noite, sob a luz das estrelas e em frente a chama luxuriante da falsidade. Nessa noite memorável Poliana selou o seu destino. Jurou amor e fidelidade eternos ao Alquimista. Prometera colocar os interesses deste acima de qualquer interesse seu ou de seus súditos. Tudo em troca de poder e supremacia. O Alquimista, em sua primazia e eruditismo era capaz dos mais brilhantes e engenhosos feitos. Com seu domínio da medieval técnica da transmutação fora possível transformar promessas em recursos, tolos em reis, interesses próprios em dádivas divinas, ações de outros em méritos unicamente seus. Era hábil em comprar consciências e corromper sonhos. Converter mediocridade em sabedoria. Adestrar impiedosos e históricos adversários tornando-os dóceis e subservientes micos de circo. Por seu inato dom da metamorfose transitava displicente em todos os ideais e ideologias, por todas as crenças e crendices, de São Antonio a Ogum. Eterno conhecedor dos mistérios do céu e da terra, do poder do cobre e do ouro, das negociatas e negociações. Poliana intimamente temia todo poder e sapiência deste ser magnânimo, por isso aceitava atuar como reles coadjuvante em seu próprio reinado permitindo-se ser manipulada como delicada marionete. Tudo para satisfazer aos caprichos e extravagâncias dessa excêntrica e poderosa figura. Com seu clã Poliana aprendera a lição mais valiosa de sua vida: o poder do ouro compensa toda e qualquer falta de pudor ou hombridade. “Vestes exuberantes e opulentas escondem perfeitamente a indignidade dos dejetos e excrementos. O odor se mascara com boas e caras essências”. Pensa a servil e perfumada Poliana.

3 comentários:

  1. Eu acho que esse alquimista erra às vezes sua poçoes porque os destilados o confundem com certa frequencia ou não, vai saber.

    ResponderExcluir
  2. Parece que o alquimista foi jogado de escanteio. Deve ter tomado uma poção de vai dormir de seus "amiguinhos". Provou do próprio veneno.

    ResponderExcluir

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.