sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Os pedidos de Poliana ao velho Noel


Poliana, concentrada, fazia seus pedidos a Noel para o novo ano que se iniciaria. Esperava que lhe mandasse chuva. Não em exagero, formando novos e indesejados buracos no asfalto – quase uma marca registrada de seu reinado. Mas em quantidade suficiente para garantir que as fontes de água não secassem. Era imperioso que não faltasse água, a fim de manter no esquecimento de seus súditos tema tão delicado. Poliana fizera algumas promessas no ano que se findava, mas que se revelaram uma incômoda pedra em suas sapatilhas. Sempre defendera, pelo menos na retórica, a tese da discussão e participação popular sobre temas de interesse coletivo. Mas, nas atuais circunstâncias, os interesses coletivos, colidiam inadvertidamente com os interesses de seu clã e de velhos amigos do SindiPelego. Por isso, Poliana torcia para que os céus lhe mandassem boas e abençoadas chuvas livrando-a de maiores tormentas e tormentos.
Pedia ao grande Pai, o Ilusionista, e sua fiel discípula, a Escolhida, que fizessem jorrar recursos sobre seu iluminado reino. Sem recursos, Poliana a duras penas aprendera, obras e promessas ficavam restritas ao papel e, é claro aos cartazzes e outdoors. Poliana não sabia por quanto tempo conseguiria alimentar seus súditos apenas com promessas e propagandas.
Poliana orava a cada noite, que Oposição continuasse placidamente a hibernar. Que suas cada vez mais frágeis alianças, se mantivessem, pelo menos nas aparências, convenientemente equilibradas. Que em seu vasto e decorativo exército de Bobos, conseguisse encontrar pelo menos um que demonstrasse ser de alguma serventia.
Que conseguisse renovar suas forças e aprimorar sua habilidade em massagear egos sensíveis. Que as cadeiras e tronos de seu palácio suportassem todos os infindáveis glúteos que precisava acomodar.
Que continuasse a esbanjar criatividade, papel e recursos públicos em seus belos e dispendiosos cartazzes.
Que não faltassem tetas a tantas bocas sedentas e que os cofres não secassem jamais. Que Imprensa Livre fosse domesticada e que todas as bruxas fossem expulsas do seu reino.
Que os espetáculos pirotécnicos da OP (Orquestra Partidária) fossem, a cada dia, mais gloriosos, arrebatando seus humildes súditos, vendendo sonhos e colhendo bons e prósperos votos de que dias ainda mais auspiciosos e lucrativos virão.
E por fim, seu mais importante pedido: que lhe sobrasse inspiração para novas e vazias promessas e desculpas, e que seus pouco exigentes súditos continuassem a saciar-se plenamente de sonhos e ilusões, tornando seu reino uma bela e alienada ilha da fantasia.

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