domingo, 27 de março de 2011

Poliana na Palmatória



Era como voltar aos bancos escolares. Poliana tinha que ouvir atentamente cada palavra, guardar cuidadosamente todo novo ensinamento e fundamentalmente concordar com absolutamente tudo que seu mestre dissesse. O forte cheiro que empestou o reino após o desarranjo ético de Poliana e sua trupe, tirou do sério seu velho mestre, o Alquimista. E foram horas e horas de lições de moral e puxões de orelhas. Poliana, cabisbaixa, aceitava placidamente as reprimendas. O Alquimista, com seu invejável e inigualável poder da oratória, despejava sobre a embaraçada Poliana uma saraivada de verbetes e vocábulos. Poliana, com sua ensaiadíssima cara de consternação, não conseguia entender o significado da maioria das palavras, mas demonstrava-se uma aluna compenetrada e dedicada, pronta a acatar cada ordem de seu professor.
Poliana tinha imaginado que não precisaria mais passar por esses constrangimentos. Há algum tempo selara um pacto com o Alquimista que garantiria supremacia a sua rainha. Mas o poder, a fama e ouro fizeram com que Poliana deixasse o ilustre tutor a margem de seu reinado. Tão entretida encontrava-se a admirar sua própria imagem e a divertir-se com as orgias de seus amigos que esquecera de convidar o Alquimista para a festa. O Alquimista, apesar da imponência e sobriedades de sua figura também gostava de uma farrinha, principalmente quando era paga pelo contribuinte. Assim, por vários meses o grande mago, pacientemente observara e esperara, aguardando o momento certo de puxar novamente os tênues fios que o ligavam a Poliana, fazendo-a mover-se com a graça e a desenvoltura de mais uma de suas inúmeras marionetes. Não sabia nossa jovem e deslumbrada rainha, que o notável poder do Alquimista residia justamente na sua infindável capacidade de cobrar dívidas. Agora, chegara a hora de Poliana pagar, com recursos públicos é claro, o preço de sua ingratidão.

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