quinta-feira, 30 de junho de 2011

Poliana, a Rainha das Jogatinas






Que divertido jogo inventara Poliana e seus amigos. Nada como ser a dona da bola e do campo, pensa a nobre rainha. Ter o poder de mudar as peças conforme sua conveniência ou capricho era realmente engrandecedor. Principalmente se para consertar os eventuais estragos pudesse contar com os inesgotáveis recursos de seus tolos e ignorantes súditos. Deve ser a isso que seu clã se referia quando falava em “vontade política”, reflete Poliana. E vontade parecia não faltar a sua alteza e seus adoráveis bobos da corte. Quanta ânsia em criar tumultos e confusões! O ideal de inclusão social alardeado por anos em Horário Eleitoral parece ter sido substituído pela idéia fixa de desconstruir o que estava se alicerçando e demolir de vez o que estivesse dando certo. Tudo para consolidar definitivamente o nome de sua majestade na história do reino. O importante era vender aos súditos a idéia de que esse magnífico reino só estava no mapa graças ao desprendimento e desempenho irretocável dessa ilustre e destemida rainha e sua fiel corte. Antes dela, a magnífica, apenas sombras e pestes assolavam o reino.
Pois Poliana adorava este jogo de poder, quanto divertimento. Em sua gincana de trapalhadas espalhara o lixo e a imundície pelas ruas. Semeara sujeira dentro e fora do palácio. Conseguira enojar até seus mais patéticos contribuintes. Feita a festa dos entulhos e dejetos montara o circo da participação popular para dar ao povo insatisfeito um pouco de ilusão e pirotecnia. Tudo muito bem articulado e elaborado para fazer o povo concluir o que já era público, visível e mal cheiroso: alguém eficiente devia recolher o lixo das ruas. Bravo! Como era importante a participação popular! Bem dita Poliana, a dadivosa, que inventara esse conceito. Terminado o espetáculo circense, a matilha de Poliana daria um jeitinho de arrumar, assim como nas vagas azuis, uma boa boca para seus amigos, talvez os mesmos que andavam esparramando o lixo pelo reino.
Depois, a jovem e espirituosa rainha, deleitara-se com seus bobos a brincar de carrinho. Abrindo e fechando ruas e avenidas. Jogando os desorientados transeuntes de um lado para outro, como brinquedos em um tabuleiro. Gerando confusão e colisões em nome de sua soberba de soberana. Se Poliana decidira, decidido estava, isso é o que se chama confronto de idéias e participação cidadã nesse democrático e inclusivo reino. Os incomodados que se lixem, declara Poliana a democrática rainha. Seus bobos, como sempre, batem palmas e concordam. Quem em sã consciência ousaria discordar de sua alteza? Afinal cabeças já rolaram por bem menos nessa corte de cortesãos e lacaios servis. Depois da divertida brincadeira, Poliana contrata uma eficiente e altamente especializada equipe para arrumar o desarranjo causado pela rainha e sua trupe. Tudo, como sempre é claro, pago e patrocinado pelos benevolentes súditos de Poliana. Que fonte infindável de dinheiro era esse seu amado povo. Que maravilhoso e solidário povo habita esse pequeno e próspero reino regozija-se Poliana. Em nenhum outro lugar no planeta encontraria súditos dispostos a patrocinar as intempéries megalomaníacas dessa corte despreparada e leviana. Somente nesse solo fértil o clã de Poliana conseguiria manter-se altivo e vivo depois de tantas trapalhadas e denúncias de imoralidade. Poliana dava graças aos céus por poder contar com um povo tão ingênuo e crédulo para financiar suas farrinhas. A nobre rainha só espera que Justiça não resolva se intrometer novamente nessa sua festinha particular regada a recursos públicos. Seus bobos lhe tranqüilizaram afirmando que Justiça já se movimentara demais nos últimos dias, por isso só deve aparecer novamente por essas bandas daqui a muitos meses, ou anos! Todos sabem da morosidade e lentidão da temível Justiça. Poliana se acalma e aguarda radiante a próxima partida de seu jogo preferido. Se seu reino ainda não era a bola da vez, todos sabiam quem era a dona da bola e do campo, pensa Poliana a rainha das jogatinas.

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