sábado, 3 de setembro de 2011

FALA SÉRIO - A Execução da Moralidade




Vinte e um tiros mataram uma juíza no Rio de Janeiro. Tiros contra a resistência da moral, da ética e da retidão sobre a imoralidade e a injustiça do país do carnaval e do futebol.
Qual o preço da decência no país da corrupção, do desmando, da propina e do mensalão? – questionam-se brasileiros íntegros do Oiapoque ao Chuí.
Vinte e um tiros ecoam nos ouvidos surdos de um país que agoniza na lama da impunidade e do desgoverno. Os tiros que calaram a voz das convicções e certezas de uma magistrada, expõem a fragilidade avassaladora de uma sociedade que perde a cada dia a direção e o senso de justiça e integridade.
Moral, ética e caráter podem ser abatidos por projéteis de arma de fogo ou pela passividade, comodidade e conivência crônicas de um Estado omisso. Essa é a lei magna de uma sociedade em franco processo de decomposição.
Os tiros que calaram a juíza Patrícia Acioli conseguiram, ao menos, causar um tímido desconforto aos sempre austeros magistrados. Um sopro de revolta e medo que talvez traga a vida uma categoria habituada a assistir inerte a supremacia da imoralidade. Clamam por segurança, temem por seus filhos, queixam-se da impunidade, as autoridades máximas do judiciário. Quisera nós, tivessem gritado antes. Quisera tivessem bradado antes, por cada cidadão comum assassinado diariamente em assaltos, por cada policial morto no exercício de seu ofício, por cada doente que agoniza nas filas de emergências hospitalares, por cada professor agredido em sala de aula, por cada corrupto que desfila debochada e impunemente em nosso país. A postura firme e combativa contra o crime organizado da juíza Patrícia Acioli não é regra, é exceção. Os representantes do judiciário por décadas tem se omitido em guiar sua sociedade na luta por justiça. Conhecedores qualificados das deficiências em nossa legislação, de cada reentrância e sujidade dos códigos e artigos, jamais ousaram, como classe, assumir uma postura crítica no sentido de promover as necessárias reformas de nosso Estado falido. Acomodados na onipotência de seus cargos esqueceram-se suas vulnerabilidades de mortais. Ao silenciarem frente a impunidade, os desmandos, a corrupção, a roubalheira e as desigualdades permanentes de nossa pátria mãe, permitiram que o crime organizado (por bandidos ou mensaleiros) definissem os rumos e ditassem as regras do jogo.
A frouxidão e permissividade das leis elaboradas por legisladores inconseqüentes, despreparados e de honestidade questionável, tornou nossa sociedade refém de criminosos. Da mesma forma que a inércia e passividade desse povo frente a impunidade e a corrupção permitiu que conceitos pétreos de certo e errado se perdessem em um abismo de desvalor e descrédito. A incompetência do Estado - mais preocupado em proteger aos párias do que a pátria - em assumir suas responsabilidades com seu povo gerou em nosso país o descrédito nas autoridades constituídas. A legislação torpe que permite que delinqüentes sejam detidos e liberados em poucas horas, é um tapa de esculacho e escárnio na cara de cada policial em serviço. Não se confia na polícia, pois os policiais são corruptos - mesmo que via de regra a maioria não o seja – esse é o senso comum. Permitiu-se que se desvalorizasse ao longo dos anos a figura da autoridade policial. Nas últimas duas décadas tem-se tentado inclusive, incutir na cabeça de cada um de nós, que estes representam uma real ameaça aos cidadãos de bem. Seriam eles os verdadeiros assassinos de jovens pobres e trabalhadores assalariados nas favelas e subúrbios desse país, como parece ser o interesse de muitos em nos fazer crer? Se há de fato tanta corrupção policial por que são tão poucos os escândalos de policiais pegos em delitos desse tipo? Medo da imprensa em investigar e publicar? Muito pouco provável. É inegável que os escândalos de propinas e corrupção são quase uma prerrogativa da classe política, que mesmo reconhecida pelos cidadãos por essa mancha perene, continua a gozar de bons salários, carga horária pífia e mordomias jamais sonhadas por qualquer policial mal remunerado e cumpridor de seus deveres desse país.
As tentativas bem sucedidas de minar as autoridades, as regras morais, e o senso comum de decência e ética de nossa sociedade têm nos jogado dia após dia nos braços receptivos de criminosos. O exemplo dado aos nossos jovens, futuro de um país, é de traficantes poderosos e bem sucedidos, corruptos engravatados e perpetuamente livres para assaltar aos cofres públicos e, professores e policiais mendigando eternamente migalhas como porcos. Não é difícil imaginar quem serão (ou são) os heróis e modelos de sucesso de nossa juventude. Para muitos de nós, difícil mesmo é entender o momento exato em que o certo se tornou tão ridiculamente errado nesse país.

2 comentários:

  1. concordo contigo os magistrados estão acordando um pouco tarde.
    Só acho tuas crônicas um tanto longas, poderias ser mais objetiva.

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  2. Voce está nos chamando de porcos nesse comentário. Policiais e professores não mendigam migalhas doutoras, nós apenas revindicamos melhorias pois não temos a pretenção de enriquecer a qualquer preço como a classe médica, aprendizes de mercenários, que deixam pessoas morrer porque não tem dinheiro para pagar um por fora para realizar uma cirurgia pelo SUS. Esses sim merecem ser chamados de porcos.

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