sábado, 17 de março de 2012

O Estratégico Alinhamento da Rainha


Os bobos da corte, perfilados e em posição de sentido acompanhavam o andar austero de Poliana. A rainha empertigada, vestida com o uniforme do BOPE, gritava ordens para sua tropa:
- Todos devem estar perfeitamente alinhados. Alinhamento é a única coisa a sustentar nosso trôpego e putrefato reinado. Para todas as coisas que deixamos de fazer traremos ao debate a importância de nosso alinhamento. Precisamos despistar os adversários e enrolar os súditos.
- Mas o que é esse tal alinhamento? – questiona um soldado da tropa real.
- Alinhamento é o nome dado por nós a velha estratégia criada por Oposição e competentemente aprimorada e modernizada por nosso clã, para garantir a eterna manutenção do poder.
- E como funciona esse negócio?
- Não é negócio, é negociata. Trata-se de um gigantesco programa de alinhamento auto- sustentável sustentado pelos súditos. Em síntese: um fundão. Fundo de Apoio a Companheirada.
- Nossa, que coisa complicada. – escabela-se a representante da FarsaSindical.
- Não é nada complicado. É tudo muito simples e lucrativo. De onde vocês, seus inúteis, acham que vêm o dinheiro para financiar todas as suas mordomias e extravagâncias? Vocês achavam que passaram a vida inteira vadiando, fazendo passeatinha e vendendo utopias com dinheiro de quem? Dos Deuses? – ironiza Poliana, com o humor um tanto cáustico.
- Dos deuses não, mas da Igreja com certeza – sussurra maroto o barrigudo membro do MSTT (Movimento Só Tramóia e Trago).
- O Fundão funciona assim – continua a rainha, senhora da situação - Em todos os reinos dominados por nosso clã cobramos de cada companheiro ou aliado uma taxa, uma espécie de dizimo, para a manutenção do poder. Esse valor incide também em toda propina que a companheirada conseguir extrair dos súditos e dos cofres públicos. Os recursos acumulados nos reinos são investidos na compra de títulos de capitalização conhecidos como votos. Quanto mais votos nosso clã conseguir, mais dividendos receberemos. Esses dividendos podem vir na forma de emendas parlamentares, carguinhos ou obras públicas de interesse privado.
- O que são obras públicas de interesse privado? – questiona o sonolento companheiro do SindiPelego.
- São obras ofertadas por nossa organização aos sempre fieis contribuintes, com grande alarido e publicidade, e que são recheadas de superfaturamento para atender aos interesses privados de alguns dos seletos amigos de nossa confraria. No final das contas as tais obras podem nunca sair do chão, mas os recursos do Fundo de Apoio a Companheirada estarão garantidos. – afirma sua alteza, orgulhosa, continuando em seguida:
- Com as emendas parlamentares e obras públicas de interesse privado conseguimos comprar cada vez mais votos e aliados. Esses últimos, diga-se de passagem, vendem-se cada vez por preço mais vil.
- É verdade rainha. Ouvi dizer que alguns venderam até nosso valoroso ideal socialista! Um verdadeiro absurdo. Tudo obra do imperialismo e do neoliberalismo, com certeza. Estão privatizando nossa ideologia! – inflama-se, quase as lágrimas, o ortodoxo companheiro Boina Verde.
- Credo Boina Verde! Você é alienado mesmo, hein? Esse negócio de ideal socialista a gente já vendeu há muito tempo. Eu mesmo troquei o meu por um vale transporte e duas garrafas de cerveja no dia que nosso clã chegou ao poder. – tripudia um dos membros do CUT (Companheiros Unidos no Trambique)
- E eu ofereci o meu por uma teta na Câmara de Vendilhões. O salário não é grande coisa, mas é melhor que ter de trabalhar como os contribuintes otários. – vangloria-se uma robusta estrela do bando.
- É isso mesmo, o dinheiro arrecadado com a venda de nossa surrada ideologia e com a sólida sociedade com mensaleiros e canastrões continua a render muito para o clã e nosso fundão.
- Para concluir esse intrincado esquema de rendimentos, os votos comprados com os recursos acumulados do fundão servirão para conquistar ainda mais tronos, cadeiras ou tetas espraiados por todo vasto reino do Gigante Adormecido. Isso sustenta a cadeia de parasitas da Vaca Pátria, e assim nós nos mantemos, firmes como carrapatos, nessa fonte inesgotável de prazer e benesses.
- Nossa! Eu nunca imaginei que o negócio fosse tão elaborado. Eu achava que o nosso dinheiro nascia de fontes mágicas ou de ONGs. – impressiona-se um dos bobos.
- Eu fiquei em dúvida, rainha. Onde é que entram os cartazzes nesse esquema?
- Os cartazzes, seu bobo, são uma peculiaridade de meu reinado. Vocês sabem como eu gosto de ousar, por isso criei um esquema próprio. Mais bairrista e lucrativo. Pelo menos para mim. Investi em uma agremiação sigilosa chamada FARC (Força de Apoio Regional a Companheirada). Os membros das FARC além de contribuírem para o fundão devem executar aqueles servicinhos sujos e rasteiros que ninguém com um pouco de bom senso ou decência aceitaria fazer.
- Como trabalhar, por exemplo? – pergunta apavorado um representante do CUT.
- Não, não. Coisinhas tolas e estúpidas. Tipo ameaçar Imprensa Livre ou difamar Justiça. Espalhar boatos e rastejar na sarjeta para permanecer no anonimato. É uma turma que aceita qualquer negócio para manter os bolsos cheios de propinas e as entranhas desprovidas de caráter. Esse grupo sim, vale cada fatia que consome desse nosso grande bolo de locupletações. – acrescenta Poliana orgulhosa, com pose de matriarca da camorra.

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