sábado, 14 de abril de 2012

Poliana Dá o Tom da Dança


- Ugha, ugha, chuá, chuá! Petê, petê! Corsan! Corsan! Toró, toró! Ugha, ugha. Chuá, chuá!
Poliana e seus bobos, como os simplórios que eram, dançavam em círculos uma estranha e arrepiante dança. Entre grunhidos e rosnados macabros faziam gestos e olhavam para o céu. Faziam oferendas esquisitas aos tais Deuses pagãos. Empilhados ao canto, numa espécie de oratório, jaziam os curiosos objetos: garrafas pet, baldes, bacias, xícara, panelas, caixas d’água e até pinicos. Cada um arrumado de forma a receber as dádivas dos céus. Que espetáculo de adoração e humildade de Poliana e seus fiéis companheiros de clã. Quanta abnegação da rainha se dispor a participar, como se uma reles mortal fosse, dos atos de coleta d’água de seu povo. Poliana se emocionava ao ver os súditos tão alegres ao receberem os primeiros jorros de água barrenta do dia. Que fabuloso e compreensivo povo esse. Contentavam-se, sem choro ou lamúrias, com um pouco da abençoada água escura. A assessoria de imprensa de seu grande clã convencia as pessoas, de forma muito efusiva, quase orgástica, de que a cor mais escura da água não era sujeira. Sujeira era o que faziam os perseguidores da rainha espalhando essas barbaridades. Esse tom água de pinhão era uma inovação bairrista, verdadeiro sucesso na região. Tratava-se de uma inigualável concentração de minerais, todos muito bons para a saúde e rejuvenescedor para a pele e cabelos. Poliana fora informada por seus bobos de que dúzias de grupo de idosos estavam vindo em excursão apenas para provar o poder milagroso das águas de pinhão. Até a Coca-Cola demonstrava interesse em se fixar por aqui, pois com a maravilhosa água do reino esta empresa poderia reduzir consideravelmente os corantes de seu produto. Os assessores de marketing e ilusão de ótica de sua alteza já estavam eufóricos com mais uma conquista desse surpreendente reinado. Quem diria que conseguiriam tornar esse campo tão pequeno em um grande pólo turístico e atrativo para grandes empresas. Isso sim é coragem de fazer! Só quem enxerga é que não consegue ver o espírito visionário dessa turma.
As donas de casa, então, adoravam nossa rainha. Não precisavam mais passar horas separando as roupas brancas das coloridas. A moda no reino de Poliana eram os tons terra. Bege, ocre, tijolo e marrom eram as cores do momento. Além das variantes, café preto, café com leite, capuccino e chocolate. Poliana, sempre muito fashion, morreu de inveja de ver seus súditos, mesmo os mais pobres e excluídos, acompanhando as ultimas tendências. Até as crianças pareciam ter adquirido um saudável tom caramelo. Devem estar distribuindo bronzeamento artificial pro pobrerio. Isso é que inclusão social, pensa Poliana. Olhando constrangida para seu fino terninho azul-calcinha, cochicha para um de seus pajens com um ar de despeito: - “Chamem já meu figurinista real. Quero um novo guarda roupas completo! E tratem de conseguir aquele tecido que parece encardido, com manchas irregulares. Deve ser o último lançamento do fashion week. Logo eu, sempre em evidência, não posso passar vergonha e me vestir como uma rainha qualquer. Se for preciso posso chafurdar um pouco mais na lama! – conclui Poliana determinada como sempre.
Enquanto isso, alguns súditos mal agradecidos, um pouco revoltados e sem muito interesse por moda, cantavam outra música, em um tom menos ameno: Ai se eu te pego! Ai, ai se eu te pego!

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