domingo, 15 de julho de 2012

A gasta bagagem da rainha


Poliana, pensativa, arrumava cuidadosamente as malas para a viagem que se avizinhava. Não tinha muitas coisas para levar, afinal. Quase tudo que pretendia se perdera no caminho. Os itens mais exuberantes de sua última viagem a Horário Eleitoral, mostraram ser o que seus céticos críticos já alertavam: apenas ilusões pouco viáveis ou meras promessas ocas. Para Poliana essa nova turnê a Horário Eleitoral seria uma excursão de férias sem qualquer compromisso. Que entediante roteiro lhe prometiam seus companheiros. Nada mudaria em sua rotina diária. Apenas churrascadas na periferia, sua tarimbada pose de musa populista, alguns discursinhos lacrimosos já enjoativos pelo excesso de uso, muitos sorrisos falsos e mais, muitas mais, das suas populares promessas vazias. Bastava a Poliana, sem adversários com cacife para lhe fazer frente, repetir as ilusões simplórias de sua última edição. Poderia repetir o mesmo jingle, o mesmo slogan, a mesma cara e o mesmo sonho.  O povo se emocionaria com o mesmo discurso, como se fosse a primeira vez a escutá-lo. Poliana anunciaria, com o entusiasmo que lhe caracterizava, que acabaria - agora SIM! - com a humilhante fila do desrespeito. Trocaria - desta vez SIM! – o agendamento por respeito. Faria SIM! – sem qualquer sombra de dúvidas, desse reino uma ilha de segurança. Todos os larápios seriam extintos. Não fossem esses, é claro, da boa e velha corte de seguidores da rainha. Afinal, companheiro é sempre companheiro, e uma mão suja sempre suja a outra. Eis o código de conduta de seu nobre e íntegro clã. Esse seria o único tema a trazer, quem sabe, algum desagrado a sua alteza. Nada com que Poliana já não estivesse habituada. Se a pueril Oposição acreditava que causaria desconforto maior a rainha com um tema tão batido e obsoleto, teria mais uma surpresa ao final dessa história. Seu povo, sempre tão ingênuo e servil, já se acostumara com a falta de brios e decência de seus líderes. Honestidade há muito deixara de ser a bola da vez nesse reino. Só Oposição parecia não ter ainda percebido. Pobre Oposição. Tão desarranjada se encontrava, que até a Poliana desanimava. Poliana já não tinha o mesmo ímpeto de outrora. Que enfadonho e cansativo seria ter de ouvir todo aquele papo de moral e ética novamente. E pensar que sua majestade acreditara que esse tema embolorado tinha sido extinto até nos bancos escolares. Sorte sua, e de sua corte, que poucos eram aqueles que ainda acreditavam nessas falácias. Povo Honesto era em sua essência sonhador.  Preferia uma ilusão bem montada a uma realidade sem glamour. Poliana e sua corte há tempos desvendaram essa verdade e com muito marketing e pirotecnia sufocariam novamente qualquer resquício de moral que ousasse interpor-se em seu colorido e bem montado reinado de sonhos e fantasias. Poliana desanimada olhava para os poucos itens de sua mala. Vontade Política, sua mágica varinha de condão, já não cabia mais na bagagem. Sua assessoria de marketing e ilusão de ótica convencera a rainha de que essa também estava ultrapassada. A rainha trocara Vontade Política pelo manto mágico do Alinhamento Político. Essa alegoria era muito mais útil nesses novos tempos. “Em baixo do Alinhamento Político, é possível esconder muito mais propinas e escândalos.”- pensa Poliana, deixando a boa e velha Vontade Política de lado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.