sábado, 29 de setembro de 2012

A caçada a Poliana


Recostada nas almofadas, exaurida de todas as forças, Poliana acompanhava entorpecida o diálogo travado entre seus fieis parceiros de locupletações.
- Não sei não, companheirada. A coisa pode ficar feia desta vez.
- Bobagem. Nós já passamos por estradas mais esburacadas e pedregosas antes. Sempre tem alguém para tirar as maiores pedras do nosso caminho.
-Você quer dizer roubar as pedras, né companheiro – ironiza a cansada Poliana. – Se vocês não se atirassem que nem porco em lavagem em qualquer oportunidade de chafurdar na coisa pública, eu não estava nessa situação.
- Nós sabemos rainha. Agora aprendemos a lição. Nos próximos anos seremos mais cuidadosos. – afirma um dos asseclas, não parecendo muito arrependido.
- Não adianta ficarmos chorando sobre o lixo derramado. Temos de arrumar uma forma de continuar empurrando a sujeira para baixo do tapete por mais algum tempo.  O importante é que nosso clã é sempre muito unido. Uma mão lava a outra e as duas juntas lavam muito mais dinheiro sujo. Esse é o nosso lema. Essa é a nossa marca!
- E esse é meu jeito de governar! – Poliana, sonolenta, repete o jargão que era obrigada a dizer centenas de vezes na sua atribulada maratona em Horário Eleitoral.
- É só uma questão de interpretação e de que lado da sujeira você está. Se a imundice está do nosso lado é sempre perseguição, ou modernamente denuncismo. Nós não roubamos, apenas cometemos erros. – acrescenta um assessor folhando a cartilha do grande clã.
 - Mas nós já falhamos em tentar tirar Justiça da nossa cola. A coisa tá ficando preta até pra nossos mestres mensaleiros. Eu tô começando a ficar preocupado com o rumo que isso está tomando. Vocês já pensaram se o povo das bandas de cá resolve aderir a essa onda de moralidade? Vai ser nosso fim.
- Não tem problema, Justiça não está com essa bola toda por aqui. Ela se acha muito engraçadinha, mas não é páreo para nós.
- Nem Oposição é páreo para Poliana. Vocês viram a enorme popularidade da rainha?! É inacreditável!
- É inadmissível, isso sim! Eu devia ter tido índices muito maiores naquela pesquisa seus molóides! - indigna-se Poliana, que já estava quase adormecida – Vocês esqueceram que a tal pesquisa foi feita entre nossa militância? Tem gente do nosso time jogando contra mim, e quando eu descobrir quem são aí sim a coisa vai ficar preta. - ameaça sua alteza, entre um bocejo e outro.
- Nenhum de nós seria capaz de trair nossa rainha! – apressa-se em afirmar um representante da Irmandade do Fogo. – Nós seguiremos nossa majestade até o fim! Não vamos abandonar o barco. – acrescenta sem muita convicção.
- Assim eu espero. – continua Poliana, recostando-se ainda mais nas almofadas, pronta para um cochilo.
- Como eu dizia, nós só precisamos enrolar os súditos por mais poucos dias. Justiça nós vamos conseguir enrolar por anos a fio. Vai dar tempo de Poliana se aposentar.
- Acho que nossa estratégia de marketing está excelente. Precisamos continuar nos fazendo de vítimas perseguidas por uma Oposição sem princípios. O povão quase vai as lágrimas quando Poliana assume o papel de Joana d’Arc populista.
- E essa história de terrenos e desapropriações? Como vamos justificar?
- Reforma agrária, é claro. E se não funcionar vamos dizer que até nisso somos melhores que Oposição. A simplória recalcada não sabe nem superfaturar direito! Quando se trata de superfaturamento nós somos imbatíveis.
- Vocês não acham que devíamos ter um plano B, para a remota possibilidade de Poliana tropeçar e cair nas mãos da intolerante Justiça? – questiona um dos bobos, abaixando o tom de voz para não ser ouvido por sua adormecida rainha.
- Já estamos trabalhando nisso, companheiro. - cochicha uma das velhas raposas da Irmandade do Fogo – Se todo o lixo dos impressos soterrarem nossa adorada rainha, nós riscamos o fósforo e vamos adiante!  Tenho certeza - acrescenta em tom de troça- que Poliana nem vai reclamar em se tornar a Joana d’Arc de nossa boa causa.

Alheia a sorrateira conspiração que lhe cercava, Poliana dormia a sono solto em seu adorado castelo de ilusões. Dormia e sonhava. Em seu sonho corria desembestada por ruas cheias de buracos, pedras e pardais. Perdida em tantas rótulas e desvios, não conseguia encontrar seu castelo para alcançar seu adorado trono. Estava sendo caçada! Uma Justiça irônica e deformada estava em seu encalço. Preocupada em fugir da perseguição ferrenha de Justiça, nem percebia o que as sombras de seu reino escondiam. Camuflados, atrás dos arbustos, estavam alguns de seus aliados e parceiros. Munidos de traições, esperavam a hora certa de abater sua, até então conveniente e lucrativa, rainha. Aterrorizada, Poliana acorda. “Ainda bem que foi só um pesadelo.” Nenhum de seus confiáveis amigos ousaria trair a popular e crédula Poliana. – pensa sua majestade, voltando a seu mundo de sonhos e fantasias.

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