sábado, 1 de setembro de 2012

Poliana Paz e Amor


O ambiente das gravações estava enfumaçado pelos incensos, tornando o ar quase irrespirável.  No chão, sobre coloridas almofadas, vestindo longas saias ciganas e lenço na cabeça, estava Poliana – a monarca paz e amor.
- Polianinha, querida, seus ouvintes gostariam de saber como é a Poliana pessoa?
- Eu sou muito amável com meus súditos. Gosto muito das pessoas. Sempre procurei trabalhar cercada de muita gente. Por isso tenho tantos bobos e pajens a minha volta, sempre a me bajular. E eu amo as criançinhas também! Principalmente aqui, em Horário Eleitoral, onde todas são tão comportadas e limpinhas. Não sou de dar chutes na canela, como uns e outros por aí. – lastima Poliana, cruzando os braços com pose de virgem ultrajada.
- Então é por isso que você, amadinha, tem se empenhado tanto para transformar seu reino num bom lugar para seus súditos!Que adorável de sua parte! – adula o marqueteiro meloso - E quais foram as ações que você, alteza, mais se empenhou com essa sua generosa mente de rainha?
- A minha primeira ação como monarca foi a criação de empregos. Isso sempre foi uma prioridade para mim. Por isso, criei o PROUCA – Programa Um Carguinho por Apadrinhado. Com esse inovador programa de inclusão de velhos amigos em confortáveis troninhos públicos, conseguimos a geração de dezenas de empregos. E o melhor de tudo: tudo pago por nossos fieis contribuintes! – vangloria-se Poliana, cruzando os braços com cara de soberana séria.
- E como se deu a seleção para a harmoniosa distribuição desses carguinhos em seu império, rainha?
- Foi um complexo processo de seleção elaborado por experientes raposas de nossa aliança integrada e integradora. Critérios muito rígidos foram seguidos para que se fizesse o melhor uso dos empregos públicos. Atribuímos uma escala criteriosa de valores para o currículo dos candidatos e apenas os melhores colocados foram contemplados com esse benefício.
- Deve ter sido muito penoso para a sensível rainha, deixar tanta gente de fora dos desejados empreguinhos públicos. – acrescenta pesaroso o apresentador.
- Na verdade foi muito fácil, fofinho. Não ficou nenhum aliado de fora. Todo candidato a uma teta pública que abanou uma bandeirinha já conseguia nota oito. Mesmo que fosse em GreNal. Sabe como é, nós adoramos um bom circo para agradar o povão. Se tivesse freqüentado alguma churrascada ou pão com lingüiça na periferia, era mais um ponto no currículo. E você sabe como são mortos de fome a companheirada, né? E para finalizar a seleção, cada candidato preenchia um termo de compromisso de que participaria assiduamente de todas as tediosas reuniões da OP (Orquestra Partidária). Assim, conseguimos acomodar todos nossos amigos nos carguinhos públicos. E nossos adoráveis contribuintes nem reclamaram! Esse é o nosso jeito de governar! – conclui a benevolente Poliana, cruzando os braços e piscando maliciosa para as câmeras.
- Nossa, eu estou realmente impressionado alteza. Mas, mudando de assunto, como seu reinado tem enfrentado a confusão do trânsito de nosso reino?
- Confusão esta fazendo você, seu ignorante! - irrita-se a rainha, esquecendo o papel de riponga sequelada  - O tráfego em meu reinado é rápido e fluído, como meu trânsito intestinal antes dos debates na TV! Só você, Oposição, e os transeuntes é que não conseguem perceber isso! – indigna-se Poliana, mostrando os já conhecidos sinais de destempero e cruzando os braços emburrada.
- Mil desculpas, alteza! Eu certamente não me expressei bem. Eu prometo seguir o script daqui para frente. – acrescenta rapidamente o sudorético entrevistador - Aqui diz que ao invés de confusão no trânsito eu devo usar as palavras: maravilhoso projeto de mobilidade urbana. Vou reformular a pergunta: do que se trata esse maravilhoso projeto de mobilidade urbana - salienta bem o marqueteiro oficial - implantado de forma tão competente e tecnicamente sustentada por seu grandioso reinado de oportunidades, Poliana? Como foi realizado o estudo técnico para implantação de todas essas melhorias no trânsito?
- Foi tudo muito simples. Eu juntei os primeiros quatro bobos da corte que cruzaram o meu caminho e juntos definimos quais ações deveriam ser executadas. Nós fechamos uma rua aqui, outra lá... bloqueamos um cruzamento acolá, jogamos uns vasos no meio da rua para enfeitar a balburdia... Foi tudo muito divertido. Depois de tudo pronto nós contratamos uma empresa especializada para concordar com nosso projeto. Como os tais especialistas discordaram da minha idéia de trânsito seguro, eu engavetei o projeto! Tudo com o patrocínio de nosso paciente contribuinte, é claro. Essa sou eu! Magnânima! Esse é o meu jeito de governar. – acrescenta a rainha, altiva e sorridente, cruzando os braços pra câmera.
- E quais são as novas ousadas ações que a senhora pretende colocar em prática para a trafegabilidade do reino?
- Nós já estamos tomando medidas extremas, inovadoras  e originais, nos cruzamentos mais perigosos do reino. – continua Poliana, cruzando os braços com ar de séria e preocupada monarca.
- Vão tirar, finalmente, aqueles vasos do meio da rua? – pergunta entusiasmado o marqueteiro.
- Claro que não, seu bestalhão! Aqueles vasos são adorados pelos motoristas. Tornaram nosso trânsito mais ecológico e bucólico. Nossas novas medidas são muito mais drásticas. Estamos colocando semáforos! – exulta a rainha, cruzando os braços com cara de espertalhona - Sim! Semáforos!
- Que bom rainha! Com novos semáforos em locais de maior fluxo evitaremos acidentes! Brilhante idéia, Poliana!
- Não é bem isso. Nós estamos colocando semáforos onde já existiam semáforos. Ia ser muito complexo colocá-los em locais novos e problemáticos. Colocamos sinaleiras mais luminosas e brilhantes. Assim, a colonada de nosso reino fica tão fascinada com aquelas luzinhas piscando, que nem presta atenção em todos aqueles buracos no asfalto. Esse é o meu jeito de governar! – salienta Poliana,  cruzando os braços e sorrindo deslumbrada para as câmeras.

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