sábado, 6 de julho de 2013

O esquerdinha, esse é o cara!

Em épocas de movimentos populares, aflora no cenário social um caricato e divertido personagem: o esquerdinha. O esquerdinha é um sujeito boa gente, culto, articulado e de convicções inabaláveis. Com seus quarenta e tantos anos, pertence à seleta classe de pessoas que pode se vangloriar, com o peito estufado de orgulho, de ainda guardar as mesmas idéias e ideais da adolescência. Um esquerdinha de boa safra, assim como os melhores vinhos, jamais envelhece, só intensifica o aroma e o sabor. Apenas aqueles de paladar menos apurado não toleram pessoa assim tão encorpada. Questão de gosto, simplesmente. Nada mais que isso.
O esquerdinha, na adolescência, saiu às ruas pedindo por eleições diretas no país. Entoava o grito da multidão que clamava por democracia e liberdade de expressão. Anos mais tarde, já na universidade, foi cara pintada. Empunhando a digna bandeira contra a corrupção pedia o impeachment de um presidente corrupto. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, nos ensinou o esquerdinha, juntamente com milhares de outros brasileiros que, esquerdinhas ou não, também foram às ruas. Nos anos que se seguiram foi crítico severo da grande mídia manipuladora da opinião pública e tendenciosa com os interesses dos novos representantes do poder. Nas mesas de bar, juntamente com outros universitários, discursava incansavelmente contra a burguesia hipócrita que desfilava em seus carros, e descansava confortável em seus lençóis, alheia a miséria de seu sofrido e oprimido povo.
Hoje, professor universitário na capital, com doutorado em Sorbonne, o esquerdinha continua quase o mesmo. O mesmo discurso ao menos. O mesmo cansativo discurso contra o monopólio da imprensa, agora com discretas nuances de controle da mídia e da liberdade de expressão. Esqueceu, o esquerdinha, que alguns deploráveis periódicos reacionários de hoje, denunciaram escândalos que cassaram presidentes de outrora. Mas eram outros os tempos, e outras as cores da moda. Na atualidade, qualquer denúncia de corrupção no governo é mera perseguição midiática. Afinal, roubar todo governo rouba. O importante é roubar por um bem maior, essa é a nova ideologia do neo-esquerdinha. O esquerdinha da atualidade mora em condomínio fechado em bairro de classe média alta e anda de automóvel modelo esportivo. Ainda fuma um baseadinho, vez ou outra, só para desopilar. A vida nos grandes centros e o corre-corre do dia a dia é muito estressante. É defensor fervoroso da liberação da maconha. Só os reacionários é que persistem com a idéia fixa de que a maconha é um mal para a sociedade. O crack sim, é um perigo. Defende, é claro, a internação compulsória dos usuários dessa droga nefasta. Já fora assaltado por um viciado em crack. Nunca passara tanto terror em tão pouco tempo. O Estado precisa tomar uma atitude e conter essa epidemia, acredita o esquerdinha, puxando um fuminho inofensivo, comprado, é claro, de um fornecedor sério e profissional.
Em suas aulas, prega com a eloqüência dos muito cultos e sábios, a sua seleta classe de acadêmicos, todas as maravilhosas conquistas do - eternamente perseguido pelo imperialismo norte americano - socialismo cubano, onde todos são iguais, e o capital não tem qualquer valor para o povo descapitalizado de quase tudo. Onde a ditadura e o desrespeito a liberdade individual e de expressão é plenamente justificável em nome da boa causa. Esqueceu, o letrado esquerdinha, que desculpa idêntica, havia sido usada na mesma ditadura que ele tão destemidamente combateu e criticou em seu país. Questão de ponto de vista, e de que lado do paredão, ou do capital, se está, naturalmente.
Hoje em dia, mais maduro, não critica mais a burguesia. A burguesia é coisa do passado. A nova moda esquerdista é criticar a elite. Elite é a aquela gente asquerosa, que anda de carro e tem casa própria. Financiada em prestações. Como o esquerdinha, mas obviamente diferente no contexto. Gente arrogante e esnobe, que conta os centavos no final do mês só para se exibir e colocar os filhos em escolas privadas. Não querem, essa elite, ver os seus filhos se misturando e desaprendendo com os menos favorecidos pelas política públicas de exclusão cultural e apartheid social. A abominável classe média fascista, que deve ser exterminada, segundo Marilena Chauí, grande pensadora brasileira (putz!), famosa e ovacionada filósofa da hipocrisia rançosa dos esquerdinhas modernos.
Em relação às atuais e gigantescas manifestações populares em seu país, pedindo por maiores investimentos em saúde e educação, o esquerdinha faz uma análise criteriosa e profunda: “Falta foco e objetividade a essa gente toda que está nas ruas. Eles não sabem o que querem. Movimentos que não são pautados por reivindicações claras e de forte apelo popular estão sujeitos a serem manipulados por grupos com evidentes interesses golpistas”. - E ainda tem gente que desacredita no efeito paranóico da maconha no cérebro de um esquerdista de raiz. - Quando questionado sobre a onda de cartazes, faixas e gritos nas ruas, pedindo pelo fim da corrupção, o esquerdinha é ainda mais contundente: “São moralistas, apenas! Não tem um ideal maior. É um movimento moralista, articulado pela direita golpista, é lógico!” Brada, exaltado e convicto, o mesmo esquerdinha que tem em sua sala uma desbotada fotografia em que erguia um imenso cartaz onde se lia: Vamos Moralizar o país! Fora Collor Já!
A coerência está na alma do esquerdinha, na mesma proporção em que o golpismo está no sangue de todo brasileiro, a capacidade de organização das massas está no cerne da direita, e a honestidade é moeda corrente na política. Quem duvidar é golpista ou fumou maconha estragada

Um comentário:

  1. Simplesmente fantastico! Vc detalha c perfeiçao a"esquerda" q critica o gde monopolio e q é defensora atualmente da corrupçao e do descaso c o dever do Estado q é cuidar do interesse da populaçao. Isso acontece pq a esquerda d hj nem passa perto do q foi, é apenas uma caricatura d seu passado. Embora saiba a verdade, prefere manter o msm posicionamento por um simples fato: Sua vaidade n lhe permite aceitar q a ideologia deu lugar à demagogia e pior d td q aceita a corrupçao pq aprendeu rapidinho a corromper. Nós estudantes universitarios d outrora, q carregavamos a foice e o martelo como símbolo da nossa indignaçao por um Estado inoperante e q so beneficiava o interesse da suposta burguesia, acordamos, essa e a gde diferença... Hj vemos q os sistemas d governo, sejam eles quais forem, apenas beneficiam quem lhes interessa, alguns arrocham o bolso e a vida das pessoas, outros menos, mas a historia permanece inalterada...

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