domingo, 22 de dezembro de 2013

As Reflexões Natalinas de Poliana



Natal. Tempo de reflexões. Até para Poliana, a rainha da ilusão de ótica e pouca afeita a questionamentos que pudessem levar a constatações desagradáveis para ela e sua corte. Mas esse ano, como nunca antes, sua alteza precisava agradecer ao Bom Velhinho. Ao velho Noel e a esclerosada Justiça que, mais que o idoso barrigudo, demonstrara conveniente disposição para empurrar com a barriga os pequenos deslizes de uma rainha com mais prepotência do que cérebro. Poliana amadurecera muito nesse ano. As semanas passadas na clausura de sua torre, determinadas por uma Justiça intransigente e excessivamente zelosa com essas bobagens de infrações e legalidades, fizeram a monarca enxergar o que sua redoma cor de rosa lhe ofuscara por quatro anos: o populismo garante a quase eterna permanência no poder, mas uma Justiça ultrajada pode colocar tudo a perder. Convinha a Poliana um pouco de trato com a coisa pública e o mínimo de discrição nos seus contumazes desvios éticos.
E Poliana conseguira. Nesse ano, seus adoráveis bobos aprenderam a lição. Já não se jogavam nos recursos públicos como porcos em lavagem. Estavam mais comedidos. Um pouquinho por vez, e em pequenas porções, era o que ensinavam os nutricionistas e as velhas raposas e eternas sanguessugas do poder, aliadas de Poliana e de seu clã. Nada tão transparente ou abusivo que pudesse render manchetes de jornais e despertar a velha e caquética Justiça. Seguindo essa receita, seu reinado passara um ano inteiro sem sequer um grande escândalo da rainha e sua corte. Palmas a Poliana! Nada como ter a cabeça permanentemente na guilhotina, a mercê dos frágeis e intempestivos humores da famigerada Justiça, para que a doce e temperamental monarca colocasse um pouco de freio em sua ânsia por dinheiro fácil.
Essa nova postura de sua majestade trazia certa melancolia à Poliana. Nesse ano, seu pé de meia não seria tão recheado como nos natais anteriores, suspira a rainha. Se tivesse de continuar nesse ritmo de prudência e moderação, acabaria por ter de sobreviver com o irrisório salário de monarca. Um verdadeiro despautério, indigna-se sua alteza. Sorte de Poliana ainda ser sócia majoritária da Laranja Empreendimentos, e de sua OP - Organizações Poliana - continuar se expandindo com a mesma ligeireza de outros tempos. Este ano, além dos conhecidos ramos de panifícios e prazer e entretenimentos, aplicara em grandes e longínquos latifúndios pantaneiros. Só esperava que seus companheiros do MSTT (Movimento só Tramoia e Trago), não resolvessem ocupar a área e prejudicar suas jogadas.  Nada como ter bom faro para aplicação de dinheiro fácil em negócios limpos. Pelo menos, nesse ponto, seus adoráveis súditos podiam ter a certeza de que o suado dinheiro dos contribuintes estava rendendo bons investimentos. Para Poliana e seus sócios, ao menos. “E tem neoliberal que acredita que recursos públicos nunca são bem administrados!” – pensa a renovada Poliana, rainha da transparência e da ética, pendurando as meias natalinas na árvore.

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