sábado, 1 de novembro de 2014

A democrática dança dos palanques no reino de Poliana


Enfim, terminara a turnê a Horário Eleitoral. Entre difamados e ofendidos, salvaram-se todos, afinal. Vencera a democracia. Mas, no reino de Poliana, dificilmente as coisas seriam como antes. Durante as últimas semanas, a confusão tomara conta da sólida coligação que suportava nossa rainha. Os súditos, pouco conhecedores dos submundos da política, já não entendiam mais nada. Era um tal de corre de um palanque, pula em outro palanque. Larga uma bandeira, abana outra bandeira. Tinha gente que vestia uma camisa até as 18 horas, para cuspir de ódio e asco na mesma camisa todo final de tarde e até a manhã seguinte. Os bobos da corte, tradicionalmente apalermados, se dividiam na difícil tarefa de bajular Poliana, para logo em seguida, se juntar a velhos adversários de sua alteza. Um verdadeiro disparate! Mas, em tempos de disputa por mais poder e muitos carguinhos, tudo é permitido nessa terra. Da prostituição de convicções à troca e venda de favores. Coisas que só quem é do ramo entende. O povo, ignorante na arte, assistia a tudo perplexo.
Até os servos de carreira do castelo de Poliana, aqueles que não estavam alinhados ideologicamente com a rainha e seus aliados, acostumados a sofrer por anos com as perseguições da corte, estavam empolgados com essa democrática onda que tomara conta da corte e da rainha. Acreditavam que nesse clima tão tolerante, de agora em diante, seria permitido aos servos reais terem opinião própria também. Poderiam, quem sabe, discordar, sem medo de perder a cabeça ou ser jogado aos calabouços por anos. Quem sabe, aqueles que opinassem, discordassem ou criticassem, fossem, daqui para frente, vistos apenas como cidadãos com capacidade de raciocínio e posicionamentos, e não asquerosos infiltrados de Oposição. Àqueles que nutrem essa esperança, Poliana, seus bobos e a velha e boa política, ensinam: Horário Eleitoral terminou, minha gente! Confronto de ideias, opiniões e divergências, não serão mais tolerados. Quem, por algum minuto, acreditou que isso seria possível, deve ter acreditado em todas as mentira proferidas na televisão. Era só política em tempos de pleito, meu povo! Não sejam estúpidos! Não há lugar para sonhadores e crédulos nessa política e nesse reino. Aos discordantes, como sempre fora, a guilhotina. E aos discordantes dentro da própria corte da rainha? Bem, isso, o tempo dirá. Agora era hora de comemorar a vitória. E, por estranho que pareça, justo nossa monarca Poliana, alinhadíssima com a novamente entronada Rainha Mãe, talvez tenha saído desse característico período da história democrática do reino, como a maior perdedora entre os ganhadores. Ganhar perdendo, deve ensinar uma nova lição a nossa poderosa e carismática rainha. Esperamos todos, que a faça crescer e amadurecer um pouco mais. Como amadurece, a cada dia, nossa peculiar democracia

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