segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Rainha Figurante


 Em Gigante Adormecido, a Rainha Mãe encontrava-se esgotada. Tivera de suar a camisa nos últimos dias. Não em suas pedaladas matinais para manter a silhueta enxuta. Nem mesmo em suas engenhosas pedaladas nas contas públicas, que prometiam lhe render mais do que dor de cabeça. Nossa monarca, apesar da bem sucedida dieta que lhe livrara dos desagradáveis quilinhos extras, precisava com urgência ganhar algumas gordurinhas políticas para conseguir manter por mais algum tempo seu moribundo reinado. E nesse jogo político, todos sabem, as transações não são regidas pelo mercado financeiro. As moedas oficiais eram apoio político e carguinhos, o legítimo e velho conhecido escambo do poder.
E se já fora difícil acomodar tantos egos e interesses nos tempos de popularidade em alta, agora, com o descontentamento correndo solto, o troca-troca tornara-se um verdadeiro suplício. Era um tal de tira um bobo daqui, joga pra acolá. Pega de lá, devolve pra cá. Troca nada por coisa alguma. Avisa o Bobo da Educação, que mal desfizera as malas, que vá procurar sua turma, pois na Pátria Educadora, compra-se apoio por atacado e vende-se coerência a varejo. Extingue um cargão, cria mais três carguinhos e uma dúzia de penduricalhos. E era reunião que não acabava mais! Reunião para afagar. Reunião para confabular. Reunião para convidar. Reunião para desconvidar. Reunião para admitir. Reunião para demitir. E na falta de agenda para mais uma reunião, telefona e manda sair.
Ufa! A Rainha Mãe afinara ainda mais a cintura de tanto rebolar. Chegara a perder o apetite pelo excesso de sapos engolidos. E o sapo mais indigesto era o velho sapo barbudo, que, ao que parece, voltara a dar as cartas nesse jogo. Fazer o que, suspira a Rainha Mãe, abatida. Para não perder a cabeça na guilhotina política, melhor perder as rédeas do reinado para seu criador. Nossa rainha prometia desempenhar nos próximos anos o ilustre papel de boneco de ventríloquo. Uma rainha figurante, coadjuvante em seu próprio reinado. Se soubesse antes o quanto eram complexos os meandres da jogatina política, teria ficado com sua lojinha de 1,99, suspira a monarca. Apesar, reflete sua alteza, que com o dólar no patamar que está, teria ido a falência. Pensando bem, recorda-se a Rainha Mãe, fora à falência em tempos de dólar baixinho e economia bombando. Talvez lhe faltasse certa aptidão para gerência e administração, conclui num impressionante e inusitado lapso de senso crítico. “Mas, quando tudo isso finalmente terminar, poderei seguir o exemplo dos monarcas que me antecederam e viajar o mundo proferindo palestras. O poder da retórica, esse sim, todos concordam, é o meu dom mais precioso!” - vangloria-se a rainha, com a autoimagem distorcida por seus circuitados neurônios reais.





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Havendo dificuldades na postagem dos comentários, o campo URL poderá ser deixado em branco.