terça-feira, 13 de setembro de 2016

Meias verdades e mentiras inteiras

Em Horário Eleitoral a pasmaceira e o discurso paz e amor não duraram nem uma semana. A troca de farpas já começara a dar o tom da disputa. E não é que os primeiros ataques partiram justo da escolhida de Poliana, a sempre doce e virginal Obtusa. Sinal inconteste de que as coisas não corriam como o esperado para os apoiadores do continuísmo. Tentar camuflar a presença do velho clã estrelado parece não ter conseguido desgrudar o estigma da estrela da candidata ao trono. Tomar para si feitos que não foram seus e requentar promessas antigas, ao que parecia, já não surtia o mesmo efeito de outrora.
 
E mudança era a bola da vez. Todos clamavam por mudança. Até os que estão hoje no poder, e com unhas e dentes se agarravam para não deixa-lo escapulir, falavam em mudar. O povo, desanimado, observava o festival de patifarias que lhe era apresentado diariamente. Nos palanques, antigos rivais se abraçavam como se bons amigos fossem. Nos discursos, velhos amigos se agrediam como se do mesmo barro não tivessem vindo. O novo, tropeçava em sua inexperiência e falta de habilidade em lidar com velhas raposas. Prova de que politicagem não passa de pai para filho nos cromossomos, é uma arte que carece de aperfeiçoamento. 

E se no mundo mágico de Horário Eleitoral a pirotecnia estava limitada pela escassez de recursos, as mentiras e fantasias continuavam a ser o ponto alto do espetáculo. A falta d’agua e os racionamentos do passado foram definitivamente resolvidos pela turma da situação.  Até São Pedro parecia ter tomado partido ao poupar o povo de uma estiagem, enquanto a tão prometida e fraudulentamente inaugurada transposição de rio continuava sem ser concluída. Talvez o querido Santo estivesse engrossando a enorme lista de carguinhos da corte de Poliana.

Já a saúde, como sempre, era o tema preferido na hora de se proferir tolices e vender ilusões aos incautos. Poliana e sua escolhida à sucessão atingiram o ápice de calhordice ao se vangloriarem dos agendamentos de consulta, convenientemente esquecidos de que o fim dos agendamentos fora sua mais alardeada promessa de disputas não tão distantes. Pois agora a doença pode esperar. E a espera por exames e consultas especializadas podia ser longa, assim sabem os doentes estrategicamente ausentes nas sorridentes imagens da televisão. E a turma de Poliana, agora em tons pastel, inventara uma nova modalidade de formação médica: o self service de diplomas médicos. Bastava ao interessado efetuar a matricula em uma instituição formadora local e já sairia prontamente com o diploma na mão, apto, portanto, a fazer todo tipo de consultas e até cirurgias! Não se sabe como ninguém pensara nisso antes. Ideias brilhantes costumam fluir de cérebros prodigiosos. Genialidade não é para todos, infelizmente.  E quando novos médicos começassem a jorrar sobre os doentes, como benção em festa de padroeiro, talvez as novíssimas salas cirúrgicas, também tão propaladas e festejadas nas propagandas, tivessem enfim alguma utilidade. Por enquanto, eram só paredes, equipamentos e números, enquanto os necessitados de cirurgias esperavam, por anos, para serem atendidos em outros campos não tão pequenos.

E ao povo, senhor do momento, restará escolher entre meias verdades, mentiras inteiras e novos engodos. Triste sina desse povo ter sempre de se contentar com mais do mesmo.
 

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